24-10-2006
O Sábio está cansado. Talvez não fosse o melhor local para mostrar o seu cansaço, mas ele está tão cansado que é algo que não lhe importa. Quando ele não tem energias, acaba por chegar inevitavelmente a este ponto. A um pico de uma montanha a observar a tudo o que o rodeia. As pessoas, os momentos, as acções, o passado, o presente e até o futuro - ou sérias hipoteses disso. E ele é levado a isso, é conduzido até lá de olhos abertos numa venda negra. Nos variados momentos em que se encontrou lá, naquele sitio, deixou o desespero se apoderar de si. Porque mesmo sendo supostamente sábio, não é infalivel e as energias - ou falta delas - fazem com que esqueça aquilo que aprendeu. Mas não desta vez. A tristeza apodera-se dele enquanto vê mais uma vez a lava a escorrer de montanhas implacavelmente a caminha por terras abandonadas, as tempestades de mares longíquos que guardam tesouros seus há muito perdidos. As nuvens que correm no céu incansavelmente. E ele está cansado, cansado demais para pensar. E a cada momento que nota que não tem uma pinga de desespero do passado, nota que a esperança no futuro foi substituída por uma indiferença. Indiferença que ele combate... quando tem energias. Se estivesse lúcido diria: "Na selva todos esperam que o predador ataca, para ficar com os seus restos" ou alguma treta do género. Mas não importa não hoje. Hoje ele observa todos os cataclismos deste seu pequeno mundo, do sitio especial que é levado sem se aperceber cada vez que não tem energia. Hoje ele sabe que não pode ajudar ninguém. Senta-se. Como se sentou milhares de vezes nos últimos milhares de anos. E perante a dor da incompreensão, da injustiça, da solidão, da incerteza e da impotência, ele sucumbe e chora. A cada acto de destruição que ele presencia, sabe que toda a sua força é inútil e que tudo aquilo que vê, irá se repetir eternamente, dia após dia. Cada grito de ajuda das pessoas que ama, cada injustiça cometida contra elas... é uma lágrima que cai do seu rosto. E lagos de lágrimas caiem...E conforme se levanta e volta as costas, ele sabe que irá voltar mais cedo ou mais tarde, porque todos os dias o seu mundo nasce, morre e renasce. Ele apenas o nota quanto está demasiado cansado para impedir de se dirigir aquele sitio.
Friday, August 15, 2008
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