Sunday, November 16, 2008

Um Post Só Para Ti

26-08-2007

"Sigur Rós de fundo. Levado pela língua inventada, imagino na minha cabeça um ser de contornos baços. Esse ser de contornos baços é o mesmo que amei em alturas que já passaram. Esse ser de contornos baços provoca um espasmo no meu rosto. Sorrio. Esse ser, claro, és tu. Indefesa, pobre pomba faminta.

Não sei há quanto tempo, apenas que é muito, que não te vejo com a regularidade de todos os dias. Não me recordo da última vez que te vi, que te falei, te cheirei, mas mensagens trocadas pelo telemóvel sei que foi ontem, num exercício de pouca sinceridade e latente civilidade que me quererás demonstrar.

Desejavas bom ano. Felicidades e que continuasse igual a mim mesmo. Os meus amigos dizem que tenho de mudar. Eu sinto que o devo fazer. Mas tu pedes-me para ficar igual a mim mesmo. Sei aquilo que queres dizer. Quero desobedecer. Ser outra pessoa. Outra, diferente. Mas não diferente como sempre quiseste que fosse. Independente e poderosa à imagem dos teus sonhos patetas que te levaram a cair num poço sem ar. Eu fui o teu oxigénio, agora pedes-me para não mudar. Mas há meses atrás, o que mais querias era que eu fosse outra pessoa

- preciso de admirar a pessoa com quem estou,

dizias.

- e eu só quero que gostes de mim,

respondia. Mas agora digo

- Desculpavas-te

e imagino. Sinto a tua momentânea felicidade, aquela que me exibes como uma chaga que me queres incrustar na pele só por maldade. Aceno afirmativamente com a cabeça, que quero um pouco dessa felicidade; um pouco de oxigénio, peço-te, o meu oxigénio que te ofereci. Num qualquer poço sem ar bem longe de ti."

Paulo Ferreira - Cartas A Mónica

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